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domingo, 22 de agosto de 2010

Brasil é o principal corredor da cocaína no mundo, diz ONU

País também tem o maior número de usuários de cocaína na América do Sul

Fonte R7 17/06/2010

A ONU (Organização das Nações Unidas) coloca o Brasil como "principal corredor da cocaína no mundo" em relatório divulgado nesta quinta-feira (17). Baseado em dados das apreensões de 2008 - os últimos tabulados pela entidade -, o órgão identificou uma rota que vem dos países andinos - Colômbia, Peru e Bolívia - e cujo destino final é a Europa, passando antes por países africanos.

Cerca de 10% dos navios que transportavam drogas identificadas por forças de segurança do mundo tinham como origem o Brasil. Outros 11% tinham como origem países da África ocidental, que serve de entreposto para a droga que sai do Brasil com destino à Europa. A Venezuela reponde por mais da metade das embarcações (51%).

Pela América do Sul passaram, em 2008, 212 toneladas de cocaína, sendo que 124 toneladas tinham com destino a Europa. O volume representa R$ 60,7 bilhões (U$ 34 bilhões).

Outro dado que embasa a afirmação da ONU de que o Brasil é o principal corredor de cocaína do mundo é a origem dos traficantes estrangeiros presos em Portugal, país considerado distribuidor interno da cocaína na Europa: 14% são de Cabo Verde, 9%, de Guiné-Bissau (ambos os países integram a rota que parte do Brasil) e 5%, do Brasil. Sem considerar a metade dos traficantes que são nativos de Portugal e os que vêm da Espanha, criminosos de países africanos e do Brasil são a maioria.

Divulgação/29.10.09/PF

Cocaína apreendida pela Polícia Federal; 212 toneladas da droga passaram pela América do Sul

Para o especialista em segurança pública e coordenador do núcleo de estudos sobre violência da PUC-Minas, Robson Savio Reis Souza, a rota passa pela África como forma de estratégia dos traficantes para driblar a fiscalização.

– Antes, ia direto de avião para a Europa. Com o aumento da fiscalização, passaram a enviar por navio à África, onde há fraco controle também. O tráfico de drogas sempre busca brechas em locais onde o Estado é leniente.

Souza alerta que a tendência é que mais drogas passem pelo Brasil em razão do aumento do fluxo de mercadorias. O país passa por um bom momento econômico, o que aumenta as importações e exportações. Segundo o especialista, a falta de infraestrutura e de recursos humanos para fiscalização deve deixar passar mais material ilícito.



Consumo

O relatório intitulado A Globalização do Crime: Uma Avaliação sobre a Ameaça do Crime Organizado Transnacional aponta que a demanda por cocaína está caindo na América do Norte, enquanto cresce na Europa, o que aumenta o interesse dos traficantes pelos portos brasileiros.
Segundo as Nações Unidas, traficantes brasileiros tomaram conta do aumento de produção na Bolívia e no Peru - tradicionais cultivadores da planta de coca que, até então, não tinham grande conhecimento do refino do entorpecente. O crescimento na produção pode ser um reflexo da queda na Colômbia, maior fornecedor de cocaína do mundo.

O estudo aponta que surgiu no Brasil um mercado de consumidores de merla - derivado da cocaína com produtos químicos como cal virgem, geralmente consumido com cigarros. Assim como o crack, a merla pode provocar dependência nas primeiras vezes em que é consumida.

O professor Souza diz que uma das conseqüências de ser um corredor é que o país se torna também um grande consumidor da droga. O Brasil tem o maior número de usuários de cocaína na América do Sul, com aproximadamente 1 milhão de consumidores - a ONU considera consumidor aquele que faz uso da droga ao menos uma vez no ano.

Apesar de em números absolutos o Brasil ser o primeiro em consumo da região, a ONU considera que a situação é mais preocupante na Argentina, onde 2,6% da população adulta consumiu a droga em 2006 - mesmo percentual dos Estados Unidos, maior mercado de cocaína do mundo.

Pesquisas feitas com estudantes da Argentina, Chile, Equador, Peru, Bolívia e Uruguai apontam um aumento no uso de cocaína entre os jovens. Em 2001, 1% dos estudantes já tinham experimentado ao menos uma vez. O percentual subiu, em 2005, para 2,2%, e para 2,7% em 2007.

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